Desde quando o PT assumiu a
chefia do Executivo Federal, houve uma incessante disseminação sobre a ideia de
que vinha ocorrendo um aumento de renda para os mais pobres que nunca havia acontecido antes no Brasil.
Em pronunciamentos e entrevistas, em um passado recentíssimo, a própria presidente
Dilma disse que o governo estava transformando o país, cada vez mais, em um país
de classe média.
Sobre isso a presidente tem razão
em apenas uma de suas declarações. O país, de fato, viu um crescimento até
exponencial da classe média. Várias pessoas ascenderam a essa categoria econômica - definida pelo próprio governo, com alterações da metodologia tradicional .
Mas é muito importante que analisemos o que representa essa classe média no
Brasil e o respectivo fenômeno que a configurou sócio e economicamente. O PT, desde sua chegada ao poder, relacionou sempre de maneira determinista classe
média com aumento de renda. Eis aqui o ''erro'' consciente dos intelectuais e técnicos
do governo, mais do que isso: foi uma escolha. E isso sempre teve um objetivo político velado: a ideia de que o PT
fez uma verdadeira revolução na distribuição de renda no país como ninguém
o havia feito na história do Brasil.
Para refutar esse marketing
político do PT, primeiro temos que analisar qual foi o fenômeno econômico que
ocorreu no Brasil durante os governos petistas. O fenômeno que possibilitou uma
mobilidade social foi justamente o aumento da capacidade de consumo. Ora, mas
isso não é aumento de renda? Não necessariamente! O que as equipes de governo
fizeram ao longo deste período petista foi expandir a moeda, expandir o crédito
artificialmente. Essa política econômica centralizada possibilitou aumento na
capacidade de endividamento. Logo, em perspectiva de curto prazo, houve aumento
de renda alicerçada no endividamento, no crédito fácil criado pela política de
expansão artificial do mesmo.
A partir disso, as pessoas
puderam, de fato, consumir mais bens e serviços. Todavia o aumento do
consumo resultou em aumento do endividamento. O que alçou um grande número de
famílias e pessoas à tão falada classe média brasileira foi a grande capacidade
de endividamento para fins de consumo da mesma. Diferentemente de outras
classes médias configuradas pelos países desenvolvidos, a nossa classe média
foi constituída embasada no endividamento e crédito artificial. Contraditoriamente,
nosso suposto ‘’aumento de renda’’ não seguiu aquilo que se observa
historicamente em mobilidades sociais que ocorrem em países mais sofisticados
economicamente: a poupança, capacidade dessa classe em poupar.
O resultado dessa política de
expansão do crédito é que, depois de certo tempo, o endividamento faz com que as
pessoas percam sua capacidade de consumo e se encontrem em um nível de
endividamento assombroso, isso na esfera microssociológica
e econômica. Na esfera macroeconômica, temos, depois de um tempo de bonança, a
tempestade e esta é a inflação galopante. Soma-se o endividamento das famílias
e indivíduos à inflação que açambarca a renda, eleva os preços dos
produtos essenciais, como alimentação, moradia e higiene a níveis
insustentáveis. Esse cenário só se prolonga quando o governo não percebe (ou
não quer perceber) que essa política econômica, a longo prazo, é maléfica para
a sociedade e ele próprio não realiza as reformas necessárias, corretas e
sensatas para conter o aprofundamento da recessão ou da crise.
Portanto o fenômeno que
configurou nossa classe média, em termos práticos, não tem relações diretas com
o aumento de renda, mas sim com o aumento da capacidade de endividamento. Esse
cenário é de bonança em um curto espaço de tempo. Mas após isso, a inflação gerada
pela expansão da moeda suga a renda real das pessoas e piora ainda mais a situação
do endividamento. Os preços ficam exorbitantes e o custo de vida aumenta exponencialmente;
segue-se o endividamento, as empresas perdem sua capacidade de investimento e
empregabilidade – algumas até fecham suas portas e não cumprem suas dívidas. Isso
tudo quer dizer uma bola de neve que vai agigantando-se desenfreadamente e
fazendo aqueles que ascenderam à classe média, por meio da capacidade
de endividamento, retornarem para classe da qual vieram, ou pelo menos reduzam muito sua qualidade
de vida. Assim, cabe ao governo (gerador da crise) tomar medidas diferentes e que
cortem na própria estrutura estatal os gastos desnecessários; sem, contudo,
colocar a responsabilidade dessa conta para a sociedade em geral.