Como era gostosa
minha monarquia! Sim, o regime republicano não é, em si mesmo, superior ao
regime monárquico (constitucional e parlamentarista). A História tem mostrado
como as repúblicas brasileiras foram muito mais nocivas ao nosso país – vide
como exemplo a 1º República, da predominância dos coronéis e dos oligarcas do
café - do que a própria monarquia - regime mais robusto e que, por isso mesmo, permite
mais habilmente reformas. Porque ao contrário do que se espera, nossa república
não tem nada de republicana: a coisa pública é diariamente vilipendiada do PT
ao PSDB, com aval, balança e abocanhada do PMDB – sem deixar de levar em consideração
a órbita de pequenos partidos também parasitários.
Seria muito
melhor que o Parlamento pudesse se reunir e derrubar o governo através de um
voto de desconfiança; isso, como demonstra a maioria dos regimes
parlamentaristas, é corriqueiro quando o governo toma medidas erradas e a
população pressiona pela sua derrubada: caem as pessoas (políticos), mas as
instituições permanecem fortes. Se essa atitude fosse abusiva por parte do Parlamento, o Rei mandava realizar novas eleições parlamentares, e o novel Parlamento eleito decidiria se o gabinete ministerial (governo) continuaria -
ou não - de pé. Esse é o melhor sistema de freios e contrapesos ao poder -
limitação eficiente e eficaz, evidentemente que com suas variações históricas,
sociais e políticas.
Nesse sistema, não há proliferação de partidos em busca unicamente de recursos públicos e cargos no Estado. Os partidos possuem mais robustez programática, o que gera mais institucionalização deles na sociedade, pois há mais preocupação com a coerência ideológica. Como exemplo no Império Brasileiro, havia dois partidos altamente programáticos: liberais e conservadores, que produziam debates de ideias e programas no parlamento e na opinião pública; entretanto não eram perfeitos - perfeição não existe na política e não cabe o mérito dessa questão aqui.
A transparência
do sistema partidário favorece o seu simples entendimento. Um inglês compreende
perfeitamente qual o papel de seu sistema partidário. Na contramão, um
brasileiro não sabe sequer qual o posicionamento dos partidos políticos em relação
às grandes questões sociais, porque eles não possuem. Não por culpa da população, mas por culpa do próprio
sistema partidário, um emaranhado embolado de siglas que não têm substância
programática – causa de nosso presidencialismo, misturado com centralidade
política da União e voto proporcional.
Mas não é
somente o sistema partidário que é favorecido em uma monarquia. A estabilidade
das instituições é, sem sombra de dúvidas, a maior virtude desse regime, e
infelizmente nossa república tem dado um péssimo exemplo nesse quesito – de controle
dos coronéis, passando por ditaduras militares e proto-fascistas como a Era
Vargas até a oligarquia dos carteis (aliança entre poder público e grandes
corporações) nos dias de hoje.
Nesse sentido é como se, nesse
regime, o Rei fosse a ponta de uma abóbada do teto de uma igreja. O monarca, Chefe de Estado, estaria acima das paixões partidárias (pois vitalício, principalmente),
e dentro da lei e da Constituição, seu poder é limitado, portatnto, age a fim de manter a estabilidade
convocando novas eleições se assim politicamente necessário for e delegando ao
povo o direito de eleger o Parlamento – instituição que melhor representa a
vontade eleitoral pluralista da sociedade, onde mora o exercício da soberania. A monarquia parlamentar é extremamente
dinâmica na sua necessidade de, quando necessário, conservar ou reformar a
política nacional. E isso faz toda diferença em uma democracia, a dinamicidade
das instituições para conservar o que funciona e reformar o que não funciona;
tudo dentro da práxis institucionalista.
Apesar de, no
passado, termos o canhestro Poder Moderador em nossa monarquia, a evolução da
política brasileira no século XIX já dava sinais de que esse instrumento,
durante o tempo de D. Pedro II, perdia, aos poucos, seu caráter patrimonialista, centralista
e a vontade unipessoal do Imperador de aplicá-lo a seu bel prazer diminua de acordo com a evolução parlamentarista do país; e caminhava
para sua real utilidade: moderar as paixões que colocavam em risco o Estado, a
Coroa e a Constituição – infelizmente outorgada, mas uma das melhores que
tivemos (enxuta e objetiva). Isso prova
o caráter reformador e mantenedor do regime monárquico, ainda que com correções
feitas pelo Parlamento Brasileiro, que ia ganhando empoderamento com o passar
do tempo, característica comum das Monarquias Constitucionais Parlamentares. No
entanto o golpe de 1889 não permitiu que essa evolução política continuasse.
A Monarquia
Parlamentar, conclui-se, é o apanágio das instituições e das liberdades
individuais, favorece o caráter programático dos partidos e sua consequente institucionalização
na sociedade civil, frisa-se. Dinamiza as vontades populares contra as vontades
das elites políticas, limita mais eficazmente o poder político formal, favorece
a competência daqueles que governam e pune a incompetência pública; a Monarquia
Constitucional Parlamentar não é um fim em si mesmo – como muitos pensam – mas um
meio para a vontade popular e para que esta influencie, mais do que na
República, a vontade política da nação; pois, nesse sistema, o Parlamento capta
melhor as aspirações e vontades populares. Isso impacta em todo o bem estar da
população, do econômico ao político; pois na economia moderna, por exemplo, a boa
Administração Pública interfere pesada e diretamente na robustez econômica de
um país, no maior grau de investimento e consequentemente na maior renda per
capita dos cidadãos. Para isso, os dados da economia e da política brasileira
de 1822 a 1889 destroem a tese de que a monarquia é retrógrada, isso sem contar
o desenvolvimento das monarquias europeias visto na contemporaneidade.
Referências:
OTACIANO, Nogueira. Constituições Brasileiras, vol.: 01, Brasília:
Senado Federal. 3º edição, 2012.
GARSCHAGEN, Bruno. Pare
de acreditar no governo [recurso eletrônico]: por que os brasileiros não
confiam nos políticos e amam o Estado. - 1. ed. - Rio de Janeiro: Record,
2015.
SOUZA, Iara Lis Franco Schiavinatto
Carvalho. Pátria coroada: o Brasil como
corpo político autônomo - 1780-1831. São Paulo: Fundação Editora da UNESP,
1999.
Marcelo de Paiva Abreu e Luiz Aranha
Correa do Lago. A Economia Brasileira no
Império, 1822 a 1889. PUC-RJ, Departamento de Economia. Disponível em http://www.econ.puc-rio.br/pdf/td584.pdf.
Acesso em 08/04/2016.
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