terça-feira, 25 de março de 2014

Marco Civil da Internet – uma derrota à democracia e à liberdade

‘’A liberdade não se perde de uma só vez. Perde-se aos poucos, fatia por fatia’’.

Hoje, dia 25/03/2014, a Câmara de Deputados impôs uma derrota à sociedade brasileira, como sempre é feito, de longa data. E para piorar, como de costume também, os defensores de mais uma regulamentação que trará resultados previsivelmente maléficos aos usuários da internet, conseguem argumentar e convencer a população de que o Marco Civil da Internet é para defender os próprios usuários. Talvez isso explique o certo frisson nas pessoas em relação ao deputado Jean Wyllys - principal porta-voz em favor do Marco Civil.

A internet se tornou um poderoso meio de comunicação justamente por nunca ter havido órgãos centrais a planejando. As ações individuais somadas dos usuários na rede constituem sua verdadeira regulamentação. Entretanto, mais uma vez nós entregamos ao Estado a condição de decidir por nós, aquele velho problema da cultura política brasileira de que as pessoas não conseguem decidir o que é melhor para elas.

A partir dessa concepção, os legisladores exploram tal condição política brasileira, uma vez que há no Brasil uma Constituição que abre espaço para que os legisladores e políticos em geral legislem sobre qualquer coisa, ou quase tudo. Querem até mesmo regulamentar as manifestações de rua.

Como bem observou Robert Dahl, para um governo não poliárquico – não democrático, as organizações e movimentos de pessoas que ocorrem de forma livre são sempre um perigo para aqueles políticos e governos com perfis não democráticos¹.  E hoje em dia não há organizações de movimentos que ocorrem de maneira tão livre e tão eficiente quanto os que surgem na internet, em sua grande maioria de crítica ao atual modo de governar dos políticos, um bom exemplo são as manifestações ocorridas em julho-junho de 2013.

O Marco Civil é, portanto, controle civil. É a tentativa clara de controlar, através de mecanismos que coletam informações dos usuários, páginas e grupos que organizam protestos e movimentos de contestação política e social sem sofrer sérios impedimentos. O Marco Civil da Internet é a morte da ordem espontânea que tanto consegue fazer com que a internet seja caracterizada, até então, como o espaço verdadeiramente mais democrático e livre da atualidade. Não atoa, o seu controle se torna uma peça tão cara ao governo e aos seus aliados políticos que recebem já há um bom tempo sérias contestações e duras críticas de movimentos organizados na própria rede.


Nada é melhor para um governo corrupto e seus parceiros do que controlar um meio que consegue fazer com que um escândalo político ou um vazamento polêmico feito pela imprensa atinja milhões de pessoas no país inteiro, desde a periferia até as classes mais altas da sociedade, o que causa revolta e duras críticas aos governos. Há uma conclusão tenebrosa sobre tais atividades políticas que vêm ocorrendo no Brasil: a sociedade está ficando cada vez mais à mercê de práticas autoritárias e contrárias ao livre pensamento, ao direito de criticar e expor opiniões. Portanto, está mais do que na hora da sociedade começar a se opor a tais medidas demagogas, antes que seja tarde demais e que nossas liberdades individuais sejam tolhidas de vez.

1- DAHL, Robert. Análise Política Moderna. Tradução de Sérgio Bath. Brasília, 2ª ed. Editora Universidade de Brasília, 1988. 

segunda-feira, 3 de março de 2014

A LOUCURA DE PUTIN


Nos tempos da Guerra Fria, como é de conhecimento de muita gente, o mundo se polarizou. E nessa dita Guerra Fria não houve nada de ‘’fria’’, pois inúmeras guerras ocorreram devido a tal conflito ideológico que tinhas duas potentes lideranças – EUA e URSS. A instabilidade sentida pela comunidade internacional era latente, isso porque a corrida armamentista e a instalação de bases inimigas próximas dos territórios líderes da Guerra Fria só poderiam gerar extremas instabilidades.

A queda do Muro de Berlim em 1989¹ não foi suficiente para que a instabilidade na região da qual a URSS tinha influência direta fosse exaurida. Em 2008 a Rússia entrou em uma rápida guerra contra a Geórgia, após este país ter atacado a região da Ossétia do Sul com o objetivo de por fim a um conflito territorial. A Rússia apoiou a Ossétia do Sul derrotando a Geórgia e enviando forças militares com a justificativa de proteger os russos daquela região. Bem parecido com o aumento das tropas militares russas atualmente na Crimeia.

A região da ex-URSS é ainda extremamente quente, fator deixado pela herança de uma guerra tida como fria e o imperialismo bolchevique soviético.  E é nesse interim contraditório que as relações políticas entre o ocidente e a Rússia enfrentam hoje o início de uma crise que pode se agravar. As potências ocidentais se mostram preocupadas com as ações russas diante da ‘’Questão Ucrânia. ’’ O Presidente Vladimir Putin parece não se guiar pelas declarações dadas pelos líderes dos EUA e os europeus.

O posicionamento de Putin diante das lideranças ocidentais é sintomático, o Presidente está enviando sinais claros de que o seu país está pronto para um esforço de guerra. Putin parece estar descartando a via diplomática em relação a sua obsessão arriscada pela Crimeia. A posição da Ucrânia é cautelosa e dramática, uma vez que não pode resistir por muito tempo, caso revide a invasão militar russa. Um revide ucraniano abriria caminhos para a Rússia dominar todo o seu território. Portanto, nada é mais sensato do que a posição precavida que a Ucrânia vem tomando.

Cautela neste momento é importantíssimo para os ucranianos, uma vez que as potências ocidentais capazes de frear o ímpeto militar de Vladimir Putin se posicionam também com críticas que se acentuam ao passar dos dias, mas não há um claro posicionamento ocidental de que vá ajudar militarmente a Ucrânia. Parece que a Rússia ainda não ultrapassou os limites necessários para uma mobilização de tropas da OTAN e/ou dos EUA e demais potencias europeias. Mas nas declarações de importantes políticos, diplomatas e governantes, há um importante ingrediente de solidariedade aos ucranianos.

A loucura de Putin é justamente saber que as potências ocidentais poderão intervir neste conflito que parece estar só no início e ainda manter sua posição agressiva em relação ao cenário internacional. Para, além disso, Putin tem uma agenda política que beira a psicopatia: um exemplo é a perseguição e a criação de Leis contra os homossexuais russos.

Putin pode arrastar boa parte do mundo ocidental para uma guerra catastrófica, e tem consciência plena disso. São injustificáveis seus argumentos de que a intervenção no país vizinho tem o objetivo de proteger os russos daquela região contra possíveis ataques de ultranacionalistas ucranianos. Essa justificativa claramente não está colando no cenário das relações internacionais.

Curiosamente, um importante historiador chamado Constantine Pleshakov escreveu um livro com o título ‘’A Loucura de Stalin², ’’ e na obra o autor discorre dos resultados consternadores causados pela loucura do ditador durante os anos iniciais da invasão nazista no território soviético. E anos depois o mundo vê surgir um exponencial louco que pode levar a incontáveis mortes e destruições.

Como não chamar de louco um presidente que persegue pessoas por causa de suas escolhas sexuais e sabe que sua postura em relação às outras nações é típica causa de uma guerra que nos faz lembrar as dramáticas duas grandes guerras mundiais (1914-1918 e 1939-1945)? Putin pode colocar em risco ainda mais as liberdades individuais e o bem maior dos indivíduos: a vida, em sua escalada imperialista insana.

2 A Loucura de Stalin: os trágicos dez dias iniciais da Segunda Guerra Mundial no front oriental/Constantine Pleshakov; tradução J.A. Gueiros – Rio de Janeiro: DIFEL 2008. 350p. :mapas