segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

George Hilton nos Esportes? Reclamem do Verdadeiro Problema: o Ministério dos Esportes

Corte a raiz e ela nunca mais dará fruto podre! As redes sociais estão em polvorosa depois que a presidente Dilma nomeou George Hilton para a pasta do esporte. O religioso que é do PRB de Minas Gerais foi expulso do antigo PFL e agora DEM, por ser detido no Aeroporto de Belo Horizonte pela Polícia Federal com dinheiro suspeito ao tentar sair do país. Mas não adianta reclamar e gritar aos ventos sua indignação quanto ao perfil do político que assumiu o ministério em questão.

Assim como uma doença é necessário combater aquilo que causa a doença e não ficar vivendo de remédios e medidas pontuais. E doença é o que parece ser a maneira como o Estado brasileiro se encontra configurado. Um dos sintomas mais graves dessa doença é o próprio Ministério dos Esportes. Esse órgão da Presidência faz diversos convênios com ONG´s e associações voltadas para a prática e difusão dos esportes nas mais diversas regiões. O Estado além de querer ser empresário, reitor, diretor e assistente social, tenta ser, sem sucesso, diretor esportivo - colocando na estratosfera a arrecadação tributária para se manter. Sem sucesso por que são rios de dinheiro jogados nas mãos de associações e ONG´s  que não conseguem atingir os seus objetivos aparentes– não raras vezes os casos de desvios são divulgados pela mídia envolvendo esse ministério e as ONG´s.

Apesar de termos um Ministério voltado exclusivamente para os esportes e com grande volume de receita fiscal, os esportes no Brasil são um fiasco retumbante. É notório que os ministérios no Brasil não têm em seus cargos de chefia caráter técnico especializado e sim uma complexa rede de barganhas político-partidárias. O resultado disso são ministérios sem autonomia necessária para servir de forma eficiente à sociedade, e acontece a submissão total dos chefes ministeriais à Presidência. Isso sem contar que uma nomeação ministerial se torna um importante ingrediente para aumentar a base eleitoral local do político nomeado. Claro que isso denota o interesse, muitas vezes, puramente político em se tornar ministro.

Para demonstrar a ineficiência do Ministério dos Esportes e sua desnecessária existência é só olharmos para a iniciativa privada, em relação aos eventos e iniciativas promovidas pelas empresas de forma muito mais eficaz e eficiente. Ao contrário do Ministério dos Esportes, as ações promovidas pela iniciativa privada (ONG´s, associações sem recursos financeiros e empresas) são infinitamente superiores a esse ministério. É um desperdício que chega a níveis imorais, pois os contribuintes que morrem em filas de hospitais são os mesmos que assistem seus filhos passarem de série escolar sem saber ler nem escrever, sofrem assaltos diariamente, são vítimas de sequestros e estupros, sofrem por causa de uma infraestrutura arcaica e ainda têm que financiar a boa vida de ministros e ocupantes de cargos de livre nomeação. Ministros que na maioria das vezes não têm conhecimento algum sobre a pasta que vão chefiar.

O Ministério dos Esportes, devido sua organização político-partidária que abandona o conhecimento técnico-especializado, junto a sua grande receita fiscal criou um mercado de ONG´s e associações que perdem o seu caráter autônomo e de interesse da sociedade civil organizada ao receberem verbas gordas vindas do ministério. E passam a ser não governamentais só no nome. Por muitas vezes os diretores dessas ONG´s têm uma estreita ligação com políticos, partidos e o próprio ministério. Podem servir, portanto, ao ideal de ganhos privados se utilizando de recursos públicos advindos dos bolsos dos cidadãos produtores.

Por fim, o que o Ministério dos Esportes faz é aumentar a possibilidade no aumento do número de parasitas, corruptos, corruptores, desvios de verbas públicas, criação de associações e ONG´s inúteis e fantasmas – além é claro de institucionalizar e incentivar os indivíduos a se apoiarem nesse aparato corrupto que usa o esporte como máscara. Então, não adianta reclamar de George Hilton chefiando a pasta, temos é que cortar a raiz! Isso significa ou acabar com o Ministério ou torná-lo independente, técnico e autônomo – isso seria institucionalmente se manter o mais longe possível das inescrupulosas artimanhas políticas que ocorrem neste país.

domingo, 14 de dezembro de 2014

O Caso Bolsonaro x Rosário: o dualismo político brasileiro e sua pobreza simplista

A dualidade é, infelizmente, o motor da política brasileira. Quando o deputado Jair Bolsonaro, eleito pelo estado do RJ, disse alguns dias atrás que a parlamentar Maria do Rosário não deveria ser estuprada, pois não merecia, a esquerda brasileira começou uma vigorosa luta contra o parlamentar e seus apoiadores. A imprensa repercutiu diversas entrevistas e as redes sociais ficaram em polvorosa. Uma batalha em polos opoentes se deu nas mídias sociais – Facebook e Twitter.

Mas é justamente o fato de termos dois polos opostos é que prejudica o debate político no Brasil. O debate acerca da fala de Bolsonaro denotou de forma límpida como se dão as discussões sobre a política no país: dois lados opostos e extremos. Quem fica no meio termo (por assim dizer) é acusado pelos dois lados opostos de apoiar o inimigo. Poderíamos considerar os dois lados como progressistas e reacionários, sem utilizar aqui nenhum adjetivo para elogiar ou menosprezar essas posições. É só uma questão didática para explicar meu ponto de discussão.   

Quando uma atividade tão complexa como a política – atividade essencialmente humana e, portanto complexa, é simplificada em dois lados opostos surge uma espécie de cortina de fumaça que impede que se vejam os processos políticos e suas extensões de forma mais aprofundada e com mais senso crítico. As atividades humanas até podem ser apresentadas e desenvolvidas com dois lados, mas nunca exclusivamente com base nesse aspecto dualista. A política deve ser entendida como uma rede com várias extensões e espaços de ocupação, nunca num continum linear único que começa em um ponto e termina em outro, isto é: duas extremidades.

Estas semanas nos tem apresentado justamente a dualidade, posicionamentos políticos que se baseiam em extremos. Especificamente no caso Bolsonaro x Rosário, a dualidade emergiu de forma abrupta. Vimos pessoas defendendo irrestritamente o deputado, ao mesmo tempo em que também vimos pessoas defendendo irrestritamente a parlamentar Rosário.  Um dos exemplos desse dualismo extremado foi a análise que o Deputado Jean Willys fez em sua página no facebook desenhando Bolsonaro como representante do nazismo. O resultado disso é o esvaziamento dos termos como nazismo e fascismo, por exemplo. Ao passo que os opoentes em suas análises e discursos soltam termos também esvaziados de sentido e de contexto, bolivarianismo por exemplo.

Os rótulos se sobressaem nessa forma dualista de analisar e fazer política. Quem se encontra no meio termo é ‘’massacrado’’ por ambos os lados. E como os rótulos políticos muitas vezes não passam de termos irracionais e são utilizados como matéria prima pelos agentes políticos, o Brasil vai experimentando um cenário político que se empobrece cada vez mais ao intensificar o dualismo político. Por pressões externas midiáticas e sociais desse dualismo, as análises sensatas (isto quer dizer centralmente uma leitura baseada no discernimento equilibrado), ficam sem palco ou não encontram espaço para serem postas nas mesas de debates. 

A conclusão sintética disso tudo é que o dualismo sempre se sobressai porque ele é mais simples e exige menos raciocínio e percepção apurada por parte de quem faz política e a analisa. E o simplismo é a marca de quem enxerga o mundo de forma a perceber somente dois extremos. Na ótica desses políticos, os extremos são um vigoroso capital político para os nossos parlamentares e jornalistas continuarem reforçando os rótulos políticos de direita x esquerda, num tom linear. E quem se posiciona em qualquer parte dessa linha se fecha num gueto hostil e que consequentemente não debate as ideias que se apresentam discordantes. Com efeito, este é o típico caso Bolsonaro x Rosário e seus respectivos seguidores e defensores. 

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

A Utilidade Histórica da Propriedade Privada

Poucos termos causam tanta repulsa nas ideias socializantes quanto o termo propriedade, isso porque os opositores com aspirações socializantes partem de uma teorização que conceitua propriedade como uma espécie de um mau a ser combatido, por ser essa a geradora de todas as desigualdades sociais e econômicas nas sociedades. Nada estaria mais errado do que essa visão, que foi imortalizada nos pensamentos de Rousseau e em síntese poderíamos dizer sobre essa visão que: ‘’a origem da desigualdade está na propriedade.''

Tal visão exposta entende a propriedade como sendo exclusivamente um bem material externo ao próprio indivíduo, que ao consegui-lo aumenta a desigualdade perante aqueles que não o conseguem. A propriedade seria, portanto, uma espécie de conquista inglória que resultaria em diversos males para aqueles que não detêm posses. Karl Marx no século XIX, em seus escritos, bradou contra a propriedade e sua suposta maldade nas suas diversas obras, o que reforçou ainda mais uma visão jocosa sobre o assunto.  Diversos autores e políticos ao longo da história lutaram contra a propriedade privada, paradoxalmente foi esta que trouxe diversos avanços para a sociedade, inclusive beneficiando seus críticos.

Mas para compreender a importância da propriedade é necessário utilizar outra chave de leitura da história que não mais pode ser a chave da igualdade/desigualdade, ou classe proprietária/classe não proprietária. O ser humano é muito mais complexo do que a dinâmica classista, e por isso as próprias dinâmicas sociais ao longo do tempo assim o são também. É necessário entender que a propriedade foi um instrumento criado pelo homem devido a sua utilidade na própria vida cotidiana, desde os tempos mais remotos. A propriedade é instrumento criado, então, não para oprimir ou dominar, mas sim para viver de maneira a buscar um melhor modo de vida. Os exemplos históricos são inúmeros, entretanto vamos nos servir de um notável processo histórico dos sumerianos na antiguidade clássica. Quando os cientistas que estudavam e tentavam desvendar a escrita cuneiforme daquele povo conseguiram o objetivo de traduzir os escritos analisados para os idiomas atuais, se depararam com escritos que na verdade eram espécies de inventários que registravam as propriedades: animais em geral, ferramentas e demais utensílios. 

Ora, tal dinâmica social nos mostra a importância para o ser humano da antiguidade em obter e preservar suas propriedades, isso faz com que a tecnologia instrumental de possuir seja um instrumento de suma importância para a sobrevivência e consequentemente um grau mais sofisticado entre as relações humanas, que devem ser entendidas muito além do simples binômio de possuir ou não propriedades. A busca para se obter propriedade é uma busca pela sobrevivência. Desde os primeiros seres humanos que a desenvolveram como uma das formas de relações humanas, o problema da sobrevivência foi cada vez mais se tornando banal, até que em nossos dias a sobrevivência muitas vezes não parece ser um problema, mas sim uma coisa superada. Então, o que tornou isso possível? De imediato, foi a sofisticação, ao longo do tempo, da propriedade privada que permitiu tal feitio.

Dito isto, percebemos que desde os tempos antigos os homens privatizam como forma de sobrevivência e de desfrutar de uma condição de vida com mais posses. Hoje, a sofisticação proprietária nos permite adentrarmos em um supermercado com uma variedade enorme de comida e produtos úteis à nossa disposição, por exemplo. O problema da sobrevivência é, portanto, ligado ao nível de sofisticação da propriedade ao longo da história. Mesmo aqueles que não possuem propriedade são beneficiados por esse arranjo, uma vez que a propriedade é geradora de outras propriedades (posses) – isso por via do trabalho livre que a tecnologia proprietária permite e necessita.