domingo, 14 de dezembro de 2014

O Caso Bolsonaro x Rosário: o dualismo político brasileiro e sua pobreza simplista

A dualidade é, infelizmente, o motor da política brasileira. Quando o deputado Jair Bolsonaro, eleito pelo estado do RJ, disse alguns dias atrás que a parlamentar Maria do Rosário não deveria ser estuprada, pois não merecia, a esquerda brasileira começou uma vigorosa luta contra o parlamentar e seus apoiadores. A imprensa repercutiu diversas entrevistas e as redes sociais ficaram em polvorosa. Uma batalha em polos opoentes se deu nas mídias sociais – Facebook e Twitter.

Mas é justamente o fato de termos dois polos opostos é que prejudica o debate político no Brasil. O debate acerca da fala de Bolsonaro denotou de forma límpida como se dão as discussões sobre a política no país: dois lados opostos e extremos. Quem fica no meio termo (por assim dizer) é acusado pelos dois lados opostos de apoiar o inimigo. Poderíamos considerar os dois lados como progressistas e reacionários, sem utilizar aqui nenhum adjetivo para elogiar ou menosprezar essas posições. É só uma questão didática para explicar meu ponto de discussão.   

Quando uma atividade tão complexa como a política – atividade essencialmente humana e, portanto complexa, é simplificada em dois lados opostos surge uma espécie de cortina de fumaça que impede que se vejam os processos políticos e suas extensões de forma mais aprofundada e com mais senso crítico. As atividades humanas até podem ser apresentadas e desenvolvidas com dois lados, mas nunca exclusivamente com base nesse aspecto dualista. A política deve ser entendida como uma rede com várias extensões e espaços de ocupação, nunca num continum linear único que começa em um ponto e termina em outro, isto é: duas extremidades.

Estas semanas nos tem apresentado justamente a dualidade, posicionamentos políticos que se baseiam em extremos. Especificamente no caso Bolsonaro x Rosário, a dualidade emergiu de forma abrupta. Vimos pessoas defendendo irrestritamente o deputado, ao mesmo tempo em que também vimos pessoas defendendo irrestritamente a parlamentar Rosário.  Um dos exemplos desse dualismo extremado foi a análise que o Deputado Jean Willys fez em sua página no facebook desenhando Bolsonaro como representante do nazismo. O resultado disso é o esvaziamento dos termos como nazismo e fascismo, por exemplo. Ao passo que os opoentes em suas análises e discursos soltam termos também esvaziados de sentido e de contexto, bolivarianismo por exemplo.

Os rótulos se sobressaem nessa forma dualista de analisar e fazer política. Quem se encontra no meio termo é ‘’massacrado’’ por ambos os lados. E como os rótulos políticos muitas vezes não passam de termos irracionais e são utilizados como matéria prima pelos agentes políticos, o Brasil vai experimentando um cenário político que se empobrece cada vez mais ao intensificar o dualismo político. Por pressões externas midiáticas e sociais desse dualismo, as análises sensatas (isto quer dizer centralmente uma leitura baseada no discernimento equilibrado), ficam sem palco ou não encontram espaço para serem postas nas mesas de debates. 

A conclusão sintética disso tudo é que o dualismo sempre se sobressai porque ele é mais simples e exige menos raciocínio e percepção apurada por parte de quem faz política e a analisa. E o simplismo é a marca de quem enxerga o mundo de forma a perceber somente dois extremos. Na ótica desses políticos, os extremos são um vigoroso capital político para os nossos parlamentares e jornalistas continuarem reforçando os rótulos políticos de direita x esquerda, num tom linear. E quem se posiciona em qualquer parte dessa linha se fecha num gueto hostil e que consequentemente não debate as ideias que se apresentam discordantes. Com efeito, este é o típico caso Bolsonaro x Rosário e seus respectivos seguidores e defensores. 

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