A dualidade é, infelizmente, o motor da política brasileira. Quando o deputado Jair Bolsonaro,
eleito pelo estado do RJ, disse alguns dias atrás que a parlamentar Maria
do Rosário não deveria ser estuprada, pois não merecia, a esquerda brasileira
começou uma vigorosa luta contra o parlamentar e seus apoiadores. A imprensa
repercutiu diversas entrevistas e as redes sociais ficaram em polvorosa. Uma batalha
em polos opoentes se deu nas mídias sociais – Facebook e Twitter.
Mas é justamente o fato de
termos dois polos opostos é que prejudica o debate político no Brasil. O debate
acerca da fala de Bolsonaro denotou de forma límpida como se dão as discussões
sobre a política no país: dois lados opostos e extremos. Quem fica no meio
termo (por assim dizer) é acusado pelos dois lados opostos de apoiar o inimigo.
Poderíamos considerar os dois lados como progressistas e reacionários, sem
utilizar aqui nenhum adjetivo para elogiar ou menosprezar essas posições. É só
uma questão didática para explicar meu ponto de discussão.
Quando uma atividade tão complexa
como a política – atividade essencialmente humana e, portanto complexa, é simplificada
em dois lados opostos surge uma espécie de cortina de fumaça que impede que se
vejam os processos políticos e suas extensões de forma mais aprofundada e com
mais senso crítico. As atividades humanas até podem ser apresentadas e
desenvolvidas com dois lados, mas nunca exclusivamente com base nesse aspecto
dualista. A política deve ser entendida como uma rede com várias extensões e
espaços de ocupação, nunca num continum
linear único que começa em um ponto e termina em outro, isto é: duas extremidades.
Estas semanas nos tem apresentado
justamente a dualidade, posicionamentos políticos que se baseiam em extremos.
Especificamente no caso Bolsonaro x Rosário, a dualidade emergiu de forma
abrupta. Vimos pessoas defendendo irrestritamente o deputado, ao mesmo tempo em
que também vimos pessoas defendendo irrestritamente a parlamentar Rosário. Um dos exemplos desse dualismo extremado foi a
análise que o Deputado Jean Willys fez em sua página no facebook desenhando
Bolsonaro como representante do nazismo. O resultado disso é o esvaziamento dos
termos como nazismo e fascismo, por exemplo. Ao passo que os opoentes em suas análises
e discursos soltam termos também esvaziados de sentido e de contexto, bolivarianismo
por exemplo.
Os rótulos se sobressaem nessa forma
dualista de analisar e fazer política. Quem se encontra no meio termo é ‘’massacrado’’
por ambos os lados. E como os rótulos políticos muitas vezes não passam de
termos irracionais e são utilizados como matéria prima pelos agentes políticos,
o Brasil vai experimentando um cenário político que se empobrece cada vez mais
ao intensificar o dualismo político. Por pressões externas midiáticas e sociais
desse dualismo, as análises sensatas (isto quer dizer centralmente uma leitura
baseada no discernimento equilibrado), ficam sem palco ou não encontram espaço
para serem postas nas mesas de debates.
A conclusão sintética disso tudo
é que o dualismo sempre se sobressai porque ele é mais simples e exige menos
raciocínio e percepção apurada por parte de quem faz política e a analisa. E o simplismo
é a marca de quem enxerga o mundo de forma a perceber somente dois extremos. Na
ótica desses políticos, os extremos são um vigoroso capital político para os
nossos parlamentares e jornalistas continuarem reforçando os rótulos políticos
de direita x esquerda, num tom linear. E quem se posiciona em qualquer parte
dessa linha se fecha num gueto hostil e que consequentemente não debate as
ideias que se apresentam discordantes. Com efeito, este é o típico caso
Bolsonaro x Rosário e seus respectivos seguidores e defensores.
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