quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

A Utilidade Histórica da Propriedade Privada

Poucos termos causam tanta repulsa nas ideias socializantes quanto o termo propriedade, isso porque os opositores com aspirações socializantes partem de uma teorização que conceitua propriedade como uma espécie de um mau a ser combatido, por ser essa a geradora de todas as desigualdades sociais e econômicas nas sociedades. Nada estaria mais errado do que essa visão, que foi imortalizada nos pensamentos de Rousseau e em síntese poderíamos dizer sobre essa visão que: ‘’a origem da desigualdade está na propriedade.''

Tal visão exposta entende a propriedade como sendo exclusivamente um bem material externo ao próprio indivíduo, que ao consegui-lo aumenta a desigualdade perante aqueles que não o conseguem. A propriedade seria, portanto, uma espécie de conquista inglória que resultaria em diversos males para aqueles que não detêm posses. Karl Marx no século XIX, em seus escritos, bradou contra a propriedade e sua suposta maldade nas suas diversas obras, o que reforçou ainda mais uma visão jocosa sobre o assunto.  Diversos autores e políticos ao longo da história lutaram contra a propriedade privada, paradoxalmente foi esta que trouxe diversos avanços para a sociedade, inclusive beneficiando seus críticos.

Mas para compreender a importância da propriedade é necessário utilizar outra chave de leitura da história que não mais pode ser a chave da igualdade/desigualdade, ou classe proprietária/classe não proprietária. O ser humano é muito mais complexo do que a dinâmica classista, e por isso as próprias dinâmicas sociais ao longo do tempo assim o são também. É necessário entender que a propriedade foi um instrumento criado pelo homem devido a sua utilidade na própria vida cotidiana, desde os tempos mais remotos. A propriedade é instrumento criado, então, não para oprimir ou dominar, mas sim para viver de maneira a buscar um melhor modo de vida. Os exemplos históricos são inúmeros, entretanto vamos nos servir de um notável processo histórico dos sumerianos na antiguidade clássica. Quando os cientistas que estudavam e tentavam desvendar a escrita cuneiforme daquele povo conseguiram o objetivo de traduzir os escritos analisados para os idiomas atuais, se depararam com escritos que na verdade eram espécies de inventários que registravam as propriedades: animais em geral, ferramentas e demais utensílios. 

Ora, tal dinâmica social nos mostra a importância para o ser humano da antiguidade em obter e preservar suas propriedades, isso faz com que a tecnologia instrumental de possuir seja um instrumento de suma importância para a sobrevivência e consequentemente um grau mais sofisticado entre as relações humanas, que devem ser entendidas muito além do simples binômio de possuir ou não propriedades. A busca para se obter propriedade é uma busca pela sobrevivência. Desde os primeiros seres humanos que a desenvolveram como uma das formas de relações humanas, o problema da sobrevivência foi cada vez mais se tornando banal, até que em nossos dias a sobrevivência muitas vezes não parece ser um problema, mas sim uma coisa superada. Então, o que tornou isso possível? De imediato, foi a sofisticação, ao longo do tempo, da propriedade privada que permitiu tal feitio.

Dito isto, percebemos que desde os tempos antigos os homens privatizam como forma de sobrevivência e de desfrutar de uma condição de vida com mais posses. Hoje, a sofisticação proprietária nos permite adentrarmos em um supermercado com uma variedade enorme de comida e produtos úteis à nossa disposição, por exemplo. O problema da sobrevivência é, portanto, ligado ao nível de sofisticação da propriedade ao longo da história. Mesmo aqueles que não possuem propriedade são beneficiados por esse arranjo, uma vez que a propriedade é geradora de outras propriedades (posses) – isso por via do trabalho livre que a tecnologia proprietária permite e necessita. 

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